A professora Laura Câmara, representante titular do Instituto Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp-BS) no NEPS, a parceria com o Departamento Regional de Saúde da Baixada Santista (DRS-IV) é fundamental, pois a universidade pública tem como princípio dentro de seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) se relacionar com a sociedade e as suas demandas sociais, locais e regionais. A Unifesp deve estar a serviço de responder às demandas dos municípios, sendo “uma ponte” entre os pesquisadores/especialistas para apoiar a formação dos trabalhadores da ponta, de acordo com as necessidades que eles apresentam. Ela explica que o grande trunfo desta relação são as ações de Educação Permanente junto aos profissionais.

Os representantes de Educação Permanente (EP) dos municípios da Baixada citam também que observam uma representação muito ativa e atuante da Unifesp no NEPS/DRS-IV, demonstrando um verdadeiro interesse de mudança na EP e de uma forma sempre comprometida com o bem estar dos estudantes.

Entretanto, ainda há muito o que se fazer para melhorar essa relação. Como é possível estar cada vez mais presente? 

As ações de aproximação promovidas pelo Observatório do ISS são um passo na direção do fortalecimento dessa parceria. O diretor do Instituto, Fernando Kinker, tem realizado reuniões para procurar construir canais que expandam e facilitem para que essa relação aconteça e envolva a universidade de forma mais ampla.

A equipe do Observatório do ISS perguntou a representantes dos municípios que trabalham com educação permanente (EP) na área da saúde quais temas ou demandas seriam passíveis da participação da Unifesp.

Em Praia Grande, a área apontada foi a possibilidade de apoio sobre territorialização. A equipe de EP já possui em seu Programa de Residência uma disciplina sobre o tema, mas depois de ouvir a apresentação do professor Carlos Roberto Castro em uma reunião do NEPS, o agentes tiveram novas ideias e notaram a potencialidade desse tema que discutem bastante por lá. Para o município, seria interessante também, uma aproximação ao estudo sobre o mapeamento da População Trans na Baixada Santista, pois estão ativos nesta linha de cuidado, buscando a descentralização da distribuição dos hormônios concentrada no Hospital Guilherme Álvaro. Outra sugestão foi sobre a tuberculose, questão importante em toda a Baixada Santista. 

Os representantes do Guarujá identificaram a necessidade de ajuda sobre os temas primeira infância, saúde do idoso e climatério (ampliar o cuidado sobre a saúde da mulher, para além do cuidado materno-infantil). Além disso, destacaram a necessidade de apoio para o cuidado do transtorno do espectro autista (TEA); sentem a necessidade de informações atualizadas para os profissionais sobre aspectos como: reconhecimento, diagnóstico e principalmente para a construção da resposta do “como atender de maneira qualificada?”, tanto na atenção básica quanto na especialidade, urgência e emergência.

Atualmente, o município São Vicente está com a demanda urgente de estruturar seus Programas de Residência de Família e Comunidade (Medicina) e a Residência Multiprofissional e se sentem ‘correndo’ sozinhos: a participação da universidade seria bem-vinda. Os representantes relatam que recebem muitos estagiários pela universidade em seus serviços, com destaque para a rede de saúde mental. Outra demanda importante é qualificar a preceptoria nesses espaços.

Além desses aspectos, há muitas possibilidades de entrada da universidade, como a aproximação e ações junto à aldeia indígena, projetos de redução de danos, racismo, equidade, apoio à população trans e refugiados: a universidade poderia ajudar a preparar os profissionais para o acolhimento e humanização. O município de São Vicente já iniciou conversa com a Unifesp para a construção do Contrato Organizativo de Ação Pública de Ensino-Saúde (COAPES), com intuito de fortalecer projetos de extensão. 

Em Cubatão, de acordo com representantes da equipe de educação permanente, o COAPES está na fase final. Porém, antes mesmo da assinatura do termo, eles já contam com o apoio do Instituto Saúde e Sociedade (ISS), a partir da articulação do diretor Fernando Kinker, para a remodelação da estrutura da saúde mental do município. Outro aspecto importante em Cubatão, é a retomada do trabalho junto ao PET-Saúde. A equipe de EP reconhece as dificuldades dos estudantes em relação ao transporte, mas ressaltam o interesse de realizar este trabalho, justamente pelo entrosamento com a ponta (profissionais da saúde).

Para Itanhaém a participação da universidade também é necessária para fortalecer a formação dos seus profissionais. A equipe de EP do município aponta que anteriormente já houve um estímulo intenso de formações e especializações de outras universidades. Seria interessante para eles ter isso novamente, ou como forma de incentivo ao mestrado. O que precisam é de fortalecimento para sensibilizar os profissionais do serviço através do conhecimento, para que tenham prática e teoria aguçadas. 

Um ponto de dificuldade em comum entre os municípios e a participação da universidade são as questões relacionadas ao transporte, já que o campus da Unifesp-Baixada Santista fica em Santos e há problema com relação ao custeio de passagens. O Observatório do ISS recebeu, inclusive, a sugestão para que seja elaborada uma lei relacionada ao subsídio do transporte intermunicipal neste caso.

A diretora técnica do NEPS/DRS-IV, Maria José Silva, também destacou essa dificuldade, apontando que há diferenças das ações realizadas em Santos, comparadas aos demais municípios da região, em razão da instalação da Unifesp na cidade: “Às vezes, uma ação que foi feita em Santos, carece de ser feita em outros municípios, então, por isso que eu digo que, se a gente puder fazer um trabalho, um planejamento conjunto, nós estaremos atendendo os outros municípios também da mesma forma que atendemos em Santos. Nem que sejam formações online, porque se coloca muito essa questão do deslocamento, do transporte, então podemos oferecer como local de aprendizado a própria regional e nós traríamos essa população para cá, para fazer um trabalho conjunto”.

A diretora ressaltou a importância das ações serem construídas de maneira mais coletiva na Baixada, para que todos os municípios possam ser beneficiados. Na última reunião do NEPS/DRS-IV de 2023, estas questões foram novamente discutidas, principalmente por conta da abertura de um novo edital do programa PET-Saúde. Fernando Kinker, diretor do ISS, participou do encontro. 

Canais de comunicação

Outra necessidade apontada pelos representantes municípios, foi a necessidade de melhorar os canais de comunicação. Alguns chegaram a destacar a “falta entrosamento para o saber da Unifesp chegar aos profissionais da ponta”, além de entraves burocráticos que envolvem diferentes instâncias do poder público (União, Estado e municípios). Com relação aos municípios, por exemplo, são poucos os municípios que possuem representante fixo de EP, ou um núcleo instituído.

“A maioria dos municípios possui representantes de EP, porém, alguns são institucionalizados, enquanto outros são representantes não oficiais que buscam estar neste espaço, portanto, institucionalmente esse espaço não está tão fortalecido. Este cenário se deve a diversos fatores, inclusive às políticas municipais e estaduais que se diferem entre si, na valorização desse espaço”, explica a professora Laura Câmara, titular do ISS no NEPS.

De acordo com Maria José, esta dificuldade é decorrente dos baixos índices de recursos humanos nos serviços. Esta conjuntura foi agravada pela pandemia de Covid-19, que ocasionou a aposentadoria de muitos servidores, além disso, parte significativa da população que utilizava os recursos privados com convênios médicos migrou para o SUS.

As ações do ISS junto ao NEPS/DRS-IV estão alinhadas com os objetivos estratégicos direcionados pelo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Unifesp, a partir da ampliação da interação com as comunidades dos entornos do campus, desenvolvimento de parcerias para impacto social, popularização do conhecimento produzido pela universidade para fortalecer laços sociais e consolidar o Observatório “como instrumento de fortalecimento da articulação Universidade-Sociedade, na perspectiva de garantir direitos, subsidiar a gestão pública e ações coletivas de cidadania” (PDI 2021-2025).

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