CAPAMEMORIAMEMÓRIAS

ENCONTROS E PRODUÇÃO DE NARRATIVAS

O conceito de memória adotado pelo grupo fundamenta-se nos estudos de Ecléa Bosi (1994, 2003), no conceito de memória coletiva de Maurice Halbwachs (2013) e no conceito saber da experiência proposto por Jorge Larrosa Bondía (2002). Esse conjunto de idéias traça um fio condutor operador de pensamento para o nosso coletivo.

A reconstrução do passado mobiliza a compreensão de que a memória é um conjunto de imagens, representações e narrativas de pessoas e comunidades que se atualiza, se reorganiza e se refaz ao passo que se narra.

“O instrumento decisivamente socializador da memória é a linguagem" (BOSI, 1994, p.56), portanto, é através das palavras que acessamos as lembranças por meio das narrações, as palavras carregam consigo sentido e significação, ou seja, a memória narrada também é produção de sentido. Segundo Bondía, “(...) também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos" (BONDÍA, 2002, p.21).

As palavras narradas evocam imagens naquele que narra e naquele(s) que escuta(m), essa composição de imagens e representações constroem contornos em movimento da memória, que por definição, sendo viva, pulsa em reconstruções de um passado, que se narra no presente, arrastando imagens e tempos do antes e do agora, numa composição.memórias experiencias vivas

A evocação de imagens neste trabalho se dedica também à coleta de fotografias, registros de diferentes olhares, formando um acervo que nos faz lembrar, conhecer e reconhecer regiões do passado, da linha do tempo que constitui a memória coletiva em movimento. No livro "Memória e Sociedade: Lembrança de Velhos", Éclea Bosi ao discutir os espaços da memória evidencia a dimensão dos sons, através de um mapa afetivo e sonoro, afirmando que as lembranças estão permeadas de sons. “O espaço sonoro compartilhado é um bem comum, mesmo os diminutos sinais que compõem suas mensagens são vitais para seus habitantes" (BOSI, 1994, p. 445).

Bosi (1994), em seu escrito, recupera os estudos de Henri Bergson, dedicados à experiência da percepção. Seria a percepção a faculdade de apreender a matéria através dos sentidos. Tomar a memória a partir da narrativa que evoca os centros sensoriais, nos posiciona a um estado de atenção aos movimentos de imagens, paisagens sonoras, olfativas e táteis.

COMO SE REGISTRAM ESSAS MEMÓRIAS?

O cuidado com os registros através da coleta, armazenamento e análise envolve uma produção de conhecimento com estes materiais e registros, aprendizado memórias tempoque se dará antes e durante o percurso, junto e compartilhadamente com os narradores. Unir essas dimensões da evocação da memória é uma experiência de nos lançarmos à construção de uma memória coletiva que vai implicando quem se dedica a lembrar e a narrar.

memórias antigasA palavra experiência carrega em sua origem, do latim experientĭa. - A palavra experientĭa é formada por três partículas, que são: "ex" (fora), "peri" (perímetro, limite) e "entia" (ação de conhecer, aprender ou conhecer). A própria palavra nos instiga a refletir sobre essa produção de conhecimento a partir do que está fora, no limite do que não me é conhecido. Essa ação de conhecer se dá na pessoa, no grupo que vivenciou determinado fato. Este é o saber da experiência, a produção de conhecimento e elaboração de sentido ou do “sem-sentido que nos acontece” (BONDÍA, p. 27, 2002).

Se a experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual sua, singular e de alguma maneira impossível de ser repetida. O saber da experiência é um saber que não pode separar-se do indivíduo concreto em quem encarna. [...] A experiência e o saber que dela deriva são o que nos permite apropriar-nos de nossa própria vida (BONDÍA, 2002, p.27).

Essa produção de conhecimento e elaboração de sentido da experiência através da rememoração dos fatos e vivências de pessoas e grupos que constituem tanto a comunidade acadêmica quanto a comunidade em geral, tem por objetivo reconstruir a memória do Instituto Saúde e Sociedade, num estado permanente de construção dessa narrativa em movimento.

A Narrativa de implantação e consolidação do campus Baixada Santista e do Instituto Saúde e Sociedade terá como fio condutor os marcos temporais e eventos que demarcam sua linha do tempo.
Essa narrativa será construída a partir da escuta e escrita das memórias da rede de narradores identificados como sujeitos emblemáticos nesse processo de implantação do campus e seu respectivo projeto político-pedagógico. A identificação dos sujeitos emblemáticos é tecida a partir da metodologia Bola de Neve (Minayo, 2014), buscando resgatar através da escuta das memórias e sua escrita “a compreensão da historicidade da experiência” (WITTIZORECKI et al, 2006, p.26) desse processo ao longo da linha do tempo.

A partir dessa noção de memória o procedimento de escrita pretende se desenvolver inspirado na estética da produção de colagens, compondo registros da escuta da rede de narradores, trechos de narrativas enviadas pelos próprios narradores, excertos de autores que dialogam com o percurso narrativo, fotos e imagens, compondo e reorganizando as memórias coletivas ao passo que narramos juntos.

PROCEDIMENTOSmemórias procedimentos

  • Escuta dos sujeitos da rede de narradores através de entrevistas abertas;
  • 1o organização de escrita que chamaremos de “Ensaio”;
  • Convite colaborativo aos narradores através do GoogleDocs;
  • Compartilhamento de fotos, imagens e excertos de autores que dialogam com o percurso narrativo;
  • Apreciação com os narradores do material produzido;
  • Publicação da narrativa em meios digitais.

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